sábado, 27 de dezembro de 2008

Lagoinha-Mundaú-Baleia-Itarema

26 & 27/12/2008 No caminho das algas .. .

Navegar é preciso, por terra, por mar, além mar, e quantos mistérios possuem esse mar, mar de odoiá, inaê, iemanjá, mar de poesia, de bravos homens que levantam leme e se vão a perderem no horizonte, mar de amores, de sabores, naveguemos e sigamos na sonoridade desse mar.
Acordo cedinho com a vista do mar em minha janela, três lindas crianças me visitaram, duas meninas e seu irmão, todos simpáticos. Da janela, ainda amanhecia, e da noite passada que tive que desmontar a bagagem da bicicleta para colocar dentro da barraca e dormir mais tranquilamente, coisas de gente urbana, pois bem, tive que ajeitar tudo de novo. Ando me acostumando com tal atividade e no mais serve para que eu me organize cada vez mais, tanto na bagagem como no meu roteiro de chegada e partida. Logo cedo resolvo começar a pedalar pela praia, a maré estava baixa e a areia propicia para esticar até Mundaú, 40km de um litoral paradisiáco. No caminho o céu se escondia em nuvens, choveu um pedaço em cima de nós dois, a esperança tem aguentado legal o percurso pela praia, quando subir para a estrada ela vai levar um banho de perfume.


Fleixeras passou como outras praias, crianças catando marisco na beira da praia, pescadores se lançando ao mar com suas canoas paquete que são abertas no meio e possuem duas velas, dois lemes. Esses pescadores passam de semanas no mar longe da familia, dos filhos, das mulheres, da terra firme; com 3 garrafas de 60 litros de água, comem no mar, dorme no mar, se sustenta dele e sonhonham por ele.

Chego em Mundaú às 10:25 e logo vou fazer meu segundo desjejum com tapioca, suco de maracujá, café e ovos para depois me deliciar com aquele banho de cuia. Vim atrás de uma ´´LanHouse´´ para dar notícias e saber o que passa no mundo, daqui, a próxima estação será na praia da Baleia, fiquei sabendo que amanha terá uma regata de canoa ou jangada. Tenho que atravessar de balsa para poder chegar do outro lado e seguir até Baleia, não sei o que me espera, o mar completa seu ciclo de cheia agora e isso é muito perigoso para quem depende dele para ir e vir, não poderei pedalar até o fim da tarde, engraçado, mas ainda não dei um ´´tibum´´ no mar, vou conhecer Mundau que como praia é uma delicia, mar azulzinho e seu povo super acolhedor. Ao atravessar a balsa encontro com alguns amigos do meu irmão que por acaso estavam se deleitando com o banho de lagoa. Exercitando a memória, mando beijo para as moças e um abraço para os machos . Joana, Viviane, Marcela, Daniel, Emanuel e Pedro.
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Tenho apanhado da tecnologia dessas maquinas digitais, perdi algumas fotos na mal-dita lanhouse que fui ontem e ainda mais a internet lá, era cara e muito lenta, ironias do destino meu, enfim, da próxima vez espero outra melhor. Vou postar o meu dia hoje, mesmo que fique grande e que ninguém leia, vejam as fotos.
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Começo cedo hoje, no mesmo processo de todos os dias, montar, desmontar e ir, ir com a esperança de chegar, esperança que vibra sonoricamente no simples rodar da bicicleta. Logo passo por várias comunidades pesqueiras, sempre perguntando aonde iria dar meu caminho, minhas direções, alguns me recebiam bem, amistosos, outros nem tanto, tudo bem, forasteiro é visto com outros olhos. Percorro alguns quilometros quando percebo que meu velocimetro pifara, talvez a água salgada misturado com areia e maresia tenham feito isso com ele. Tenho pago todos os meus pecados ultimamente, hoje andei dois trechos empurrando a bicicleta na areia fofa, uma na praia outra no mangue.


Vi um golfinho morto na beira da praia, como a vida é, conversei com um pescador que disse que é comum acontecer tal fato, o golfinho encalha e pronto, assim como tartarugas e outros peixer que se perdem de sua rota, no inverno é mais comum isso acontecer.
Hoje foi um dia surreal, cemitérios nas dunas, muito forró e cachaça no bar da balsa que atravessava as moitas para a enseada dos patos. Dei um tempo vendo a moçada jogando sinuca, de tanto cansaço, não me atrevi a jogar uma partida, fiquei esperando o sol esfriar para assim atravessar, mas o que queria comentar é que a sinuca é um jogo muito interessante, jogo de malandro, jogo de intelectual.
Depois de estradas de carroçal que é de terra batida ou piçarra, acabei caindo na pista, no asfalto, confesso que estava com saudade da estrada, também a esperança tava baqueada, corrente seca, estralando, dava uma dor vê ela assim, e também queria pegar a estrada por que nela tem descidas intermináveis. Já estou em Itarema, não sei se vou a Almofala hoje (domingo) conhecer a comunidade indigena de Tremenbé.

Ontem (sábado) dei um super banho na bike, tava precisando passar um óleozinho, tomar uma ducha, hoje ela tá só o bombom, deslizando do asfalto.

Pensamentos me tomam, a ficha anda caindo e eu vibrando feito louco para a imensidão do mundo, o universo é algo mágico, o amor ainda mais, e nesses momentos a esperança é só deleite. Preferia não falar nada, as vezes prefiro até, as palavras não dizem o que realmente sentimos, só o que a gente pensa, a minha sensação de está se jogando nesta jornada é algo ... sem palavras , acho que vou postar as fotos e até mais, beijos e abraço calorosos, para aqueles que estão acompanhando de perto, fico feliz por tudo, nos vemos por estas veredas ou quem sabe no FSM.


Alguns cenários do caminho, só desfrute ...



até a próxima estação .. .


sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Lagoinha

São Gonçalo do Amarante - Lagoinha 25/12/2008





Depois de um dia com as meninas da casa para não dizer moças, da janela azul, hoje fora dia de deixar cortar o cabelo, fazer tapioca, lavar a roupa e ajeitar as roupas no alforje. Era Natal, e nem parecia, dia anterior vimos uma estrela cadente cortando o céu estrelado. Uma tentativa de jogar War II, porém malograda para a alegria de todos, suzy irmã de Cris, com toda sua alegria e animação para um lado e para o outro na casa, escutando músicas de várias linguas, gostei muito de conhecê-la, aliás, toda sua familia.





O almoço delicioso preparado por D. Mocinha com sua filha Crisfiane deu uma boa energia e uma boa canceira de só fica no sofá e não querer mais nada na vida, por um tempo. O sol da tarde ardia na pele, protetor solar nela, chapéu de palhana cabeça, óculos e vamo embora. Mais outra despedida, essa, cheia de alegria e emoções.




A estrada se fez em carcarás voando no céu azul, cajueiros e carnaúbas, essas são bem típicas da vegetação daqui. Eu movimentado pelos pensamentos, saudades e esperanças de mais um dia de viagem. O asfalto contribuiu bastante na pedalada de 70km até Lagoinha. Coqueirais que me fizeram parar, deixar a bicicleta encostada e catar alguns cocos para o lanche, os coqueirais fazem parte da cena de LAgoinha, a maior parte de cocos que se toma na capital vem diretamente daqui, é coco para se banhar.


Restava pouco tempo para o sol dar lugar à noite, e então apressei o passao para chegar logo nessa bem dita lagoinha, com o que restava de luminosidade, deu tempo de entrar e contemplar o mar numa vista panorâmica do mirante. Lagoinha para os moradores é um paraiso, e de fato, praia com o mar tranquilo, com falésias, coqueirais. De tanta beleza natural que possui, a praia vem sendo alvo das expeculções imobiliárias por parte dos estrangeiros, em sua maioria.


No mirante com a bicicleta descançando, encostada na mureta, um senhorzinho franzino, com chapéu de palha muito charmoso veio em minha direção prosear uma conversa, na qual se prolongou por mais de duas horas. Me chamando de ´´seu zé´´. Seu Cosmo é o nome dessa figura, pescador desde os 9 anos de idade é um dos mais antigos da equipe de Lagoinha, e como sendo pescador o que não faltou foi estórias para contar ... desde sua familia ao atual presidente Lula que para ele, não existiria homem igual, enfim, seu Cosmo me falou das marés, dos ventos terrais, homem sem estudos, mas de uma grandeza muito grande, tinha orgulho do seu paquete, para outros desconhecidos pode ser chamado da memorável jangada. Na fé de São Francisco de Assis o pescador só adentrava ao mar devotando o santo; criticou a igreja dos crentes e falava por demais de peixe e mais meia duzia de palavras que eu não consegui distingui-las, por fim, me despedi de Cosmo e de sua familia e me encaminhei à praia montar a barraca, e aqui estou, boa noite.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Fortaleza - São Gonçalo do Amarante


O despertador alarma cinco e meia da manhã, é hora de levantar. Olho pela janela do quarto à alvorada timida que surge da janela. O corpo dispara, pensar que cada dia será um outro dia, e cada vez mais dinâmic, como a vida há de ser, transformando-a em movimento.






Falar de itinerário, é falar de partida, de estada e de retorno, mesmo que se deva entender que há várias partidas, que a estada é também viagem e que o retorno não é jamais definitivo.

Nunca me senti a vontade com as despedidas, mas esta despedida de meus pais, irmãos, ´´janelas´´, cidade e amigos fora bem leve, tranquila. Os primeiros quilometros foram os mais sofridos, deixando Fortaleza para um outro tempo, com todo peso de memórias recentes que carrego comigo, vou levando e deixando ser levado pela ´´esperança´´. Como diz o poeta: Nada no mundo é feito sem esperança, e de fato, a levo junto ao corpo, em pensamentos.


Me deparo com um longo percurso pela frente, disparo a favor dos ventos e me encaminho para saída da cidade em direção à Barra do Ceará que foi se não me engano onde houveram os primeiros sinais de embarcações portuguesas, resumindo, uma vista maravilhosa, entretanto um contraste social tremendo.


O sol demora a aparecer, o que me agradou por duas horas de pedalada, depois ele deu as caras e o jeito foi colocar o chapéu de palha e ir embora ou ´´simbora´´. No caminho à São Gonçalo que fica 75km de Fortaleza, lembrei de uma amiga (Cris) do museu que possui familia na cidade, então resolvi enveredar por estás bandas, pois já foi, fui super bem acolhido por essa familia linda, só mulheres felizes e alegres, com papagaios, gatos, cachorros, irei passar a noite na casa, felicidades e alegria.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Amanhã inicio a esperada viagem que me fez tomar posições pertinentes com essa jornada. Ceará, Piaui, Maranhão e Pará sendo levados pelo movimento de duas correntes, corrente de pensamentos (os mais sinceros) dos amigos, pais, familiares, anônimos, ocultos, colegas, a outra, corrente da ´´esperança´´ (a bicicleta). Oeste do Nordeste e uma parte do Norte do Brasil sendo descoberta através do movimento circular entre força de vontade, esperança, espiritualidade, curiosidade e a busca do conhecimento em campo, a busca da identidade de um povo.

Com destino à Belém do Pará, sendo quase que uma figura semelhante a um eremita, carregando uma luz como simbolo de confiança e sabedoria, vou levando minha casa comigo, bem como todos que me apoiaram neste caminho. Beijos e abraços indeléveis, saudades infinita.

À baixo segue o que estou carregando para essa jornada que durará em torno de um mês de pedalada para Belém.





No mais, tudo na mais perfeita paz . ..