Poderia viajar de carro, de ônibus, de avião, mas nenhum desses meios de transporte me fariam ver ou perceber tantas realidades, tantas culturas, manifestações de afeto, de troca de experiências e tantas outras situações que viajando de bicicleta tenho a feliz oportunidade de vivência-las.
Não seria o mesmo, agora, se tivesse tomado a decisão de ir ao Pará por outro meio de transporte que não fosse a bicicleta. Meu tempo não é o da chegada nem o da partida como acontece quando se viaja de carro ou avião, meu tempo é enquanto.
Passei por vilas de pescadores, por entre comunidades indígenas, atravessei rios e lagos, empurrei a bicicleta com todas as minhas forças e esperanças para poder chegar a um terreno que desse para seguir pedalando. Vi um pai ensinar ao filho os segredos e os mistérios da eletrônica da televisão, olhei pro céu e vi arco-íris e estrelas cadentes, tomei banho nú em rios e mares, acordei cedo, me alimentei bem e praticamente me exercito todos os dias. Chorei de tanta felicidade como de saudade das pessoas e derramei lagrimas pela confiança que depositam em mim, bem como das respostas de quem acompanha esta viagem.
Aprender com as perdas, com os dias tristes de sol quente, castigando a pele que as vezes nem calango aguenta, aprender com a judiação das más condições da pista, que consome energia, paciência. Saber lidar com as situações e se impor diante delas, decidindo a cada momento para onde ir, o que fazer, como fazer, sendo flexivel aos caminhos que se apresentam diariamente.
Vivendo intensamente e tendo consciência de que cada instante é único, aprendendo com as adversidades, a bicicleta tem me proporcionado viver um tanto isso.
Entrei no Piaui, fui à Parnaíba, tomei sorvete de bacurí, agora me encontro no Maranhão conhecendo o seu sonho ´´cor de rosa´´ que é o guaraná Jesus e escutando de praxe em todas as casas um pouco de reggae. Aqui o sol castiga, mas o inverno vem aí, hoje já se lançaram as chuvas e o pensamento do povo da terra é que o inverno vai ser bom. Com tanto sol a cerveja teria que ser gelada, e é.
Passei pelos pequenos lençóis maranhenses, pois de Tutóia a Barreirinhas( cidade linda às margens do Rio Preguiça, ponto de partida para quem vai aos Lençóis Maranhenses) peguei uma condução 4x4, pois sem ela seria impossivel de chegar em Barreirinhas. De Barreirinhas vim bater em Morros depois de uma longa caminhada. A chuva já se faz presente, fico eu sem saber como vão ser meus próximos dias, enfim, vão sendo ...
Feliz por saber que as coisas vão tudo na mais perfeita ordem, tudo na mais santa paz . Meia hora de abraços e beijos a vocês.