segunda-feira, 2 de março de 2009

Belém do Pará - Fortaleza-CE

Depois de tanto, retorno à Fortaleza-Ce concluindo o que teve início há dois meses. No começo do projeto ´´ Esperança, Próxima Estação´´ eram somente perspectivas, sonhos, esperanças que permeavam o imaginário, hoje posso dizer que algo se concretizou, realizou-se, tomou vida e corpo. Ainda sei que outros tantos projetos virão a ser construídos, alguns pequenos e outros mais longos, mas com algo singular na proposta, a bicicleta.
A esperança continua dentro de mim, e fora ela me acompanha e me leva aonde eu quero, até mesmo além do que quero. Finalizar o projeto não é algo tão fácil, acredito que o que começamos em vida não possui fim, e sim continuidade, a verdadeira transformação, assim como os amanheceres que mais parecem finais de tarde. Andar de bicicleta não é só um exercício físico, mas sim uma atividade mental que envolve sentir um outro modo de ver o ´´mundo´´, de percebê-lo e se pôr diante dele, é claro que para isso, necessário é se permitir à tal liberdade que no simples equilíbrio do corpo e da mente a poética se constrói no rodar da bicicleta somada ao pulsar do coração que consequentemente vai se encaminhando para um estado de felicidade e alegria, coisa de criança.

Mas com toda problemática ambiental que passamos atualmente refletido no modo de consumo desenfreado, na descartabilidade das coisas, no estilo de vida contemporâneo que nega a sustentabilidade e cerra os olhos para a nossa Mãe Terra, desrespeitando e ignorando-a sua natureza. A bola de neve cresce cada vez mais e o Planeta Terra vem dando suas respostas com as alterações climáticas acentuadas.
E o que podemos fazer para (re)criar uma sociedade culturalmente consciente da sustentabilidade, na sua economia, política e meio social? Acredito que tudo parta da Educação e do Respeito, e claro, dá vontade de cada um, sendo partícula de transformação.

Depois do FSM fiquei duas semanas em Belém conhecendo seus movimentos culturais, sua culinária e seu povo, que de fato esse assemelha com o cearense, talvez devido a intensa migração de nordestinos ao Pará ocasionado pelo ciclo da borracha. Dizem que a volta é sempre mais rápida, mas nunca comentão que ela é todo um processo de reconhecer o caminho da ida, além do que o regresso é sempre complicado quando se está a vontade com a situação da qual se vive, e no meu caso eu diria que passaria outros dois meses ou até mais, só conhecendo parte do país e do seu povo, me embrenhando nesses ''brasis'' de tantas cores, saberes e estórias.
Viajar de bicicleta torna os dias mais únicos, seja pelo fato de causar no outro uma curiosidade na intervenção que a bicicleta com toda sua bagagem produz ou até mesmo pelo simples raiar do dia com os galos cantando, a vaca passando ao lado da barraca, o ventinho gélido no rosto quando se está dando as primeiras pedaladas matinais e os encantos que guardam os caminhos no compassar da bicicleta. ...
Amigos fiz de ''ruma'' como diz o cearense ao se referir a uma boa quantidade, ouvi tantas estórias de assombração, refleti sobre a humildade das pessoas e da admiração na qual depositavam em mim por estar viajando de bicicleta. Partilhei de tantos momentos familiares com outras famílias, dormi em camas confortáveis e outras também desconfortáveis, mas tudo valendo cada suor desprendido por meu esforço.
''Por céus e mares eu andei, vi um poeta e vi um rei, na esperança de saber o que o amor''
E enquanto caminhava para chegar no maciço de Baturité antes do carnaval tive que pegar um caminho alternativo que me custou um esforço físico tremendo, mas um vislumbre inacreditável e surreal por cima de serrotes.
Tem sido singular poder estar com amigos e familiares daqui do Ceará, reencontrando pessoas, fortificando laços, partilhando das experiências da viagem e rindo das besteiras dos encontros.
Ultimamente tento me reabituar a vida agitada na cidade, é sempre chocante quando me deparo com a diferença pondo em comparação minhas duas realidades, pois há pouco tempo estava vivênciando algo tão intenso e novo. Pois ao voltar me reconstruo do ontem e me fortaleço no hoje. Agora pretendo promover essa viagem e propagar a cultura de viajar de bicicleta, no mais fico e desejo a todos a mais perfeita paz.
Agradecido a todos que colaboraram e fizeram parte desse lindo trabalho,

Rodrigo Patrocínio

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Belém Do Pará

Hoje posso refazer e expor todo o processo dessa viagem que roda como a um filme na minha cabeça. Ter planejado vir de bicicleta para o FSM em Belém não me surgiu como a primeira alternativa, porém com o tempo, nos corredores da faculdade em período de final de semestre a idéia de dar vida ao projeto um tanto (foto)etnográfico foi se construindo, onde vejo na bicicleta um meio de transporte barato, e sobretudo por ser o instrumento que possibilita colocar-me em campo, partilhando e conhecendo outras realidades psicosociais-regionais com uma outra ótica, com um outro modo de ver e também de ser visto. E por essas e outras convicções mantenho firme a idéia de viajar de bicicleta, de me permitir sentir um pouco de cada lugar, de cada canto, me inteirando com a natureza, através de meus esforços, quebrando barreiras inaudiveis, invisíveis, se perdendo pelas veredas para se (re)encontrar logo adiante.
Doravante saber que foi tudo real e o que parecia loucura ou falta de senso para outros tornou-se acreditar, conviveram com a esperança de chegar, com os relatos da viagem, mentalizaram que onde quer que eu estivesse estaria seguro, estaria na santa paz. O projeto de viajar e fotografar de bicicleta não tem término nesta viagem, mas a experiência adquirida irá somar para futuras ciclo(pesquisa)viagens. Posso dizer que conheci um pouco do Norte-Nordeste do Brasil, observando e me inteirando nos costumes de cada região, de cada localidade, convivendo com as figuras sociais como pescadores, agricultores, donos de fazendas, garimpeiros, pessoas que no decorrer do percurso encontrava.

Reconstruir um mês tão intenso de uma rica aprendizagem intelectual, espiritual e humanitária não é tão fácil de expor em linhas tortas, aqui tão lineares, mas é tão espontânea as lembranças que me tomam por horas; da humildade em saber chegar, dos sorrisos das crianças, da grandeza da natureza, do acolho das pessoas e do cheiro de café dos fins de tarde aos banhos de igarapés do Pará. Foi só um mês, pois se me perguntarem o que fiz ou aonde estava no décimo quinto dia de viagem irei contar um pouco da minha saga.
Se me perguntarem qual foi a parte mais complicada da jornada escolheria o seu antes, o antes de tudo virar um corpo, virar vida, as despedidas, os dramas, a questão financeira, a tentativa do planejamento, a ansiedade para começar a jornada foram pontos que desprenderam esforços, parte inevitável de todo e qualquer projeto. O durante não é tão difícil, o mais difícil depois do antes são os dias quentes, a saudade das pessoas, familiares, da caminha quentinha, do conforto da casa, da comidinha da mamãe, enfim, nada que dê para se desesperar, pois há esperanças no caminho, por entre ele, as veredas. Há encontros e despedidas, há magia em estar disposto em viver como nômade, há conhecimentos as vezes inexplicáveis e um sentir dúbio entre grandeza e o que é pequeno diante do planeta terra.
Miséria, sofrimento, fome, sede quase não vi, claro que vi sim, nas cidades grandes vi de tudo, egoísmo, mesquinharia, humilhação, sofrimento, dentre outras mazelas de centros urbanos. Perigo quase não sofri, só o de dormir numa rede entre galhos de uma caramboleira, e das formigas, insetos, varejeiras, urubus que me impregnavam o juízo quando os tinham por perto. Muitos ao me verem diziam ou perguntavam: ´´quanta coragem, ô cabra corajoso, você está vendendo algo?, é promessa?, isso é loucura!´´ Eu, porém já não me via no direito de contradizerem, o que poderia eu fazer? Loucura para mim é a vida nas cidades, suas contradições, conflitos, a marginalização dos indivíduos, a carência de compaixão, os horários, a correria cotidiana, o barulho infernal, fumaça e os engarrafamentos intermináveis.

Amigos, foram tantos que fiz pelos caminhos onde passei, amizades fraternas, maternas, irmãos que com o apoio e acolho das palavras e coisas materiais ajudaram a fortalecer toda a viagem, fizeram valer todo o suor diário. Outras amizades foram construídas através do Blog, ferramenta que eu particularmente não dava muita coisa à ela, mas me surpreendeu a receptividade para o projeto daqueles que acompanharam o caminho.Muitos foram os lugares onde acampei, onde descansei um pouco do meu cansaço, aonde foi possível parar a bicicleta, conversar com moradores, explicar todo o projeto para então de repente me abrigarem em suas casas ou quintais, dando um bom banho depois de um dia de pedal, uma boa comida com quase sempre boas conversas. Quando não, tive que acampar em escolas públicas, faculdades, postos de gasolina onde havia banheiro com banho e um espaço para montar a barraca.Experimentar novas situações me fizeram valorizar e respeitar a natureza, a natureza de cada indivíduo, a expressão mais bonita que é o amanhecer e o entardecer do dia. Hoje estou um pouco mais forte para poder ser, acreditar no que será e no que há de vir a ser. O tempo vai, já estou em Belém quase duas semanas. O FSM aconteceu imerso a contradições e conflitos ideológicos, desorganização, enfim, mas mesmo assim foi interessante poder partilhar com amigos cearenses e amigos de outras regiões do Brasil e da América do Sul.
Ando conhecendo um pouco de Belém, me perdendo para me encontrar em praças que aqui possuem muitas, indo no Ver-o-Peso que é uma das maiores feiras livres da América do Sul, assistindo filme no Olympia um dos cinemas mais antigos do Brasil. Tomando sorvete de Açai, suco de cupuaçu, cozinhando um pouco do meu tempero para @s amig@s, me alimentando de alegria por estar envolto por boas amizades.
Agora aproveito o fruto dos esforços que fiz para poder chegar aqui, chegar tão bem quanto eu sai de minha cidade. A saudade bate, mas logo voltarei e para confessar a volta digo que sinto medo dessa volta. A volta é sempre mais difícil, pois requer um readaptar, a volta para mim é um sentimento contraditório, pois na medida em que quero ver as pessoas queridas, estar na minha casa ao mesmo tempo quero prolongar a viagem para conhecer outros lugares, outros modos de vida, etc.
Um pouco do meu olhar foi posto nesse blog, um pouco de cada experiência foi posta aqui, agradeço aos que acompanharam essa viagem, agradeço aos que apoiaram e deram força nas horas mais apropriadas, fico feliz pelo carinho de tod@s. Para os curiosos que querem saber como irei voltar, posso dizer que ainda não sei, a viagem ainda não terminou, ainda estou de férias e quero aproveitar um pouco dela, Fortaleza-Ce será minha Próxima Estação, onde penso em passar o carnaval na serra. Um Forte Abraço para tod@s, fiquem bem, felicidade e amor.


Agradecido , Rodrigo P.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Castanhal - PA

25.01.2009

Tanta chuva no caminho e são várias as nuvens que anunciam tempestades, uma espécie de bolor de nuvens, transportada pelo vento que de uma hora para outra, quando menos se espera, está chovendo e ticalatapum ... Papoca !
Prefiro não pedalar na chuva, mas quando se está na estrada e não há como evitar a chuva, o jeito é apressar o passo até a próxima parada, de preferência um lugar seguro, tranquilo e coberto.

Chuva à vista, e apresse o passo para chegar num lugar legal. Recebido por ´´seu´´ Raimundo, dono de um restaurante à beira da BR. Raimundo é meu conterrâneo, filho de agricultores que sairam de Canindé para tentar a vida no Pará veio ainda moço com seus pais que fugiam das secas, coronelismo, enxada e voto. Pará foi um atrativo para os nordestinos na década de 40 se não me engano, como o norte ainda era nativo se tratando das frentes de expansão de mineração, extração da borracha, de madeira, dentre outras, vinheram muitos nordestinos para a construção de um Estado que é o Pará hoje. Assim aconteceu com o pai de Raimundo, agricultor, possuidor de lotes de terra que com o tempo foram vendidos a preço de buriti para os magnatas criadores de gado; assim aconteceu com su Raimundo, com outros Antônios,Franciscos, Ciceros, Marias ...


Volto a pedalar no meu ritmo, agora sou só eu e a minha Esperança indo por fora e por dentro para chegar ao Fórum. Depois de uma boa pedalada para chegar em Castanhal vou quase que de relâmpago acompanhando as nuvens a casa de Jivago, onde sou muito bem recebido por sua família e amigos. Sua tia preparou um almoço delicioso diário e em seguido fomos tirar um som do violão para fazer a digestão para mais tarde ir jogar uma ´´pelada´´. Fazia muito tempo que não jogava ´´de bola´´ como o cearense fala, e então como estava cansado pela pedalada, joguei apenas uma partida só para brincar.
O melhor de cada região além as pessoas é conhecer sua culinária, seus temperos, suas cores e sabores, pois bem, a noite fui levado a conhecer o tacaca e a maniçoba, muito bom, muita energia para a próxima pedalada que é a Belém.

Fomos para a casa de Veudo que é percursionista, pesquisa o Carimbó de Algodoal (região litorânea no Pará), faz instrumentos percursivos e pinta telas, além de reutilizar matérias reciclados para a (re)construção de sua casa. Veudo é um figura, também tem a sina de ser cearense. O som da vitrola preenchia a noite, só clássicos do Jazz.
Durante a viagem dormir em tantos cantos inóspitos, insólitos e derivados, mas nunca em uma árvore, uma caramboleira. Como existem sempre as primeiras vezes, fui eu lá, subindo aos troncos para a rede que Veudo havia colocado para minha pernoite. A uns 8 metros para baixo eu dormir um sono tranquilo naquela rede, sendo acordado pelo sol e ao canto dos passarinhos, em paz.
No outro dia estava combinado para irmos a Apeú na casa de Ana, Marcelo e Cinzia, moçada que mexe com artes visuais, performances, música, enfim, arte e expressão, inquietações artísticas. Lugar maravilhoso é Apeú, ainda muito bem nativa com suas florestas onde resguardam tantos mistérios da Amazônia. Lugar bem tranquilo é a casa de Ana que se chama Xangri-lá, uma delícia de casa, muita arte, muita vida em cada canto, magia por entre a casa. Corre um igarapé à baixo onde o banhar é indescritivel, o lugar é abençoado, só as formigas que não deixam dar um descanço aos pés ...

Cinzia e o Japonês preto velho.

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Indo à cidade das Mangueiras , Belém do Pará ...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Pinheiro, Gurupi - MA / Capanema - PA

15.1.2009

Muita coisa aconteceu nesses últimos dias; por sinal todas muito positivas. A partir de uma entrevista para a rádio Pericumã de Pinheiro conheci um casal que está indo para Belém, também de bicicleta. Osmar é de Curitiba e Ana polonesa, mas ultimamente reside em São Luis. Os dois se conheceram na cidade dos azuleijos e estão indo ao Fórum. Engraçado como os caminhos se cruzam; é tanta sincronicidade que eu já nem sei mais. As coisas vão fluindo e agora estamos pedalando juntos ao Fórum.
No dia, almoçamos e fomos tomar um banho de rio para seguir na estrada. Agora em trio fica mais bonito e tendo uma mulher pedalando junto, dá para organizar mais as coisas. Em trio dá pra conversar, apostar uma corrida, brincar, cozinhar juntos, trocar idéias, compartilhar momentos e outras coisas mais.



A tarde rolou uma rodada de Jaca doada por um morador quando iamos beber água em sua casa. A noite foi incrível: conhecemos uma pessoa linda que nos preparou uma super janta por de baixo de jambeiros, foi uma mãe para gente. Como sobremesa me ofereceu um doce de goiaba, e perguntei se esse doce de goiaba era caseiro; a resposta veio logo em cima da pergunta, "Claro, minha mãe é quem faz". E eu num átimo não pude negar; veio o doce com creme de leite que a sobrinha Camila trouxe. De fato o doce tava uma delicia. Acampamos, e pela manhã um café reforçado que fizeram para gente, depois seguimos em viagem . Essa interação com as pessoas tem sido muito boa, essa troca, essas energias; acaba que nos tornamos parte da familia delas e nos tratam como se fossemos realmente da familia, indescritível.


O pedal de hoje correu bem, fluído, pegamos uma chuva forte até chegar a um abrigo onde preparamos nosso almoço. Voltamos a pedalar a tarde e o que me impressiona é como a paisagem vai se modificando - já é outra, assim se dá com as casas que não são mais de sapê, adobe, pau-a-pique, mas sim de madeira. Outra é a vegetação, são florestas loucas e vários contrastes, árvores enormes, lindas. Mas há o ´´progresso´´, são muitas as fazendas de gado .. são várias as madereiras ilegais, toras de madeira circulando pela estrada, enfim, o norte já se apresenta pra gente com suas belezas e seus trâmites.


Para rememorar os bons tempos que não se apagam: Fogueira, Chá e Chapati na noite. Foi o que aconteceu na noite somando a um altiplano onde acampamos.
20.1.2009

Pois bem, há tempos que não dou o ´´parecer´´, pudera: entrei no Brasil rural, e esse Brasil cada vez me impressionando, surpreende-me por sua diversidade étnica, cultural e florestal. Vê-se no rosto desse povo seus traços indígenas; toma-se conhecimento vasto das plantas, chás e remédios; a medicina popular, conhecimentos passados de geração à geração.
Deixo o Maranhão para trás através da ponte que corta por cima o rio Gurupi, onde o memorável Darcy Ribeiro se entregou às águas do rio e aos índios Guajajaras em anos de pesquisas. O rio Gurupi é a interseção entre o Maranhão e o Pará.
Pra mim, só estaria definitivamente no Pará depois da primeira tigela de Açaí, pois foi o que aconteceu; uma rodada de açaí por minha conta, pode botar senhor. Açaí, açúcar e farinha. E de farinha é que o pessoal gosta. Temos nos dado bem nesse percurso para Belém, cantamos, rimos um do outro, cozinhamos, aprendemos; enfim, em trio dá para agilizar melhor.
Pelo Pará ja se iniciam manifestações daqueles que vão ao Fórum Social Mundial - são muitas as expectativas para tal Fórum e são várias as iniciativas.
Agradecido estou pelas Reginas, Marias, Eteuvinas, Graças, Lurdes, Nazas, Franciscas, Helenas e tantas outras mulheres de espírito maternal, que com tanta humildade e amor incondicional nos tratam maravilhosamente como se fossemos seus filhos. Agradecido pelo aprendizado diário que a natureza trasmite. Agradecido pela moçada que tem acompanhado a viagem.
No Pará há um ditado que diz: ´´ Foi pro Pará parou, tomou açaí, ficou´´. E é de impressionar mesmo, não sei o que acontece, mas todos gostam. Frutinha doida essa, no Maranhão chamam-a de Juçara, vai saber... Dá numa palmeira linda, onde seu fruto fica em cachos. A safra do Açaí ta acabando, mas a do Cupuaçu está apenas começando. Para os mais íntimos Cupú, e que delícia é o suco. Vou lhes contar como preparam o suco do Cupú: Quebra-se o Cupú e retira-se a densa poupa das sementes. Em outro momento eles tiram o leite do coco e batem no liquidificador o cupú, o leite do coco e açúcar, põem pra gelar e voilá, tá pronto, uma delicia.
Tenho brincado muito com as crianças, ontem mesmo cantei muito em karaoké com um monte de criança, só músicas infantis, folclóricas, foi divertido. Tenho rido muito com as crianças e aprendido muito com elas, tenho pra mim a intuição das crianças. São lindas, algumas tantas.

Abraços Fraternos.
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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

São Luis / Alcântara - MA


Chego em São Luís exaurido pela chuva, pela BR, muitas subidas, pista danificada, carreteiros em alta velocidade, enfim, sou puro cansaço. Confesso que me espantei, claro, depois de vir em uma viagem tranquila, ora pela praia, ora por vias estaduais, caio logo em uma BR em fim de férias. Era fim de tarde quando encontrei-me diante daquele movimento todo de qualquer cidade, por dizer: carros, barulho, poluição de todo lado, sujeira, ignorância, egoismo e outras coisas mais.

Utilizando do artifício de ´´universiotário´´ fui tratar de passar a noite na Estadual ( UEMA ), e lembrando do velho ditado que diz: ´´ Quem tem boca váia Roma´´ fui atrás de saber no departamento de assuntos estudantis se poderia acampar por lá, sempre falando do projeto e do Fórum. Não havia ninguém responsavel pelos assuntos estudantis, depois de alguns vais e vens, conheço uma moçada do DCE que então me recepcionam ao ilustre Reitor da UEMA para que eu pudesse receber a ordem de que realmente poderia passar a noite na faculdade. Pernoito na faculdade, curtindo um pouco de reggae da galera, conhecendo-os e conhecendo o que se passa na cidade. No outro dia fico informando que o almoço é de graça no RU e logo dei graças.
Comendo mariola, resolvo me banhar e logo começar meu ritual para seguir ao centro histórico. ´´São demais os perigos dessa vida´´ como diria o poeta e camarada Vinícius de ´´tantas morais´´. Cidade Grande tem gente que dorme com um olho aberto e o outro fechado, e são demais esses perigos e gatunos. Pois bem, vim bater na Rua Formosa onde me hospedei na pousada Alcantaria quase ao lado do jornal pequeno, onde logo tentei fazer alguns contatos com a redação do tal jornal, mas todos malogrados.
E na cidade dos azulejos o que não falta são eles, de todo jeito, pra todo gosto, um mais esmerado do que o outro. E também não faltam histórias por aqui. Ah se esses azulejos falassem, se esses sobrados, ruínas de casarões, ladeiras, paredes falassem nos contariam toda a história, nua e crua. E há história de canto à canto aqui, algumas ladeiras me falaram do sofrimento para que elas fossem feitas, falaram do sofrimentos dos negros ao subirem as ladeiras com pedras, usando das coxas para fazer a telha ( e vem dai a expressão feito nas coxas), nos malfazejos dos capatazes, falaram também da malandragem do povo, dos crimes e castigos do império, das injúrias e fofocas das donzelas da corte. A arquitetura do centro histórico em particular é muito rica, digo rica pela sua estética, pelos detalhes, pelo trabalho artesanal das portas, ferrolhos e outros objetos.
Se hospedaram na pousada dois camaradas de Florianópolis que estam viajando de carona para o Fórum. No café da manhã trocamos umas idéias bacanas sobre rota de viagem, de onde viemos, para onde vamos, enfim rapaziada gente boa. Pois disso, desses caminhos cruzados, o meu caminho mudou, pois vou a Alcantâra conhecer e viver mais um pouco de história do Brasil.

Pego a embarcação tendo dificuldades para aportar a Esperança em seu devido local, depois disso só alegria, sentei perto da proa desfrutando a paisagem vendo São Luis ficar distante e olhando sempre ao mar, o desejando, e vi um golfinho, vida de baixo d´agua. Chego em Alcantâra já está noite, a vontade é de tomar aquela gelada e me resolver como irei passar a noite, ando um pouco por outras ladeiras, essas agora bem mais rústicas. Não sei bem sobre a real história de Alcantâra, pelo que escutei parece que a cidade servia como proteção da baia. O que encontrei foram ruínas de sobrados, outras construções gigantescas para a época feitas de pedra, óleo de baleia e outras substâncias para dar liga. Vi vários canhões, sentinelas, palácio do governo, visitei o museu de uma família importante para aquele tempo, enfim, passeio turistico e tirei fotos também.

A baia é linda, um visual deslumbrante, dá vontade de botar no bolso e tirar depois pra vocês.

Depois de almoçar em Alcantâra pego a estrada e venho me embora para Pinheiro. Comendo manga no meio do caminho, conversando com as pessoas, recebendo ao longe um agrado gestual de uma familia venho bater em Pinheiro.

´´Quando se tá longe um pequeno gesto vira muito´´ . Amo vocêS! : ) ..